E aí! Um dos milagres trazidos pelas férias é, conseguir ter tempo de preparar o teto com antecedência para ele ser publicado na data correta! Pois bem, já faz um mês que fui no comiket, e agora estou finalmente aqui para contar pra vocês as minhas impressões sobre o tão famoso evento. Para quem ainda não viu, o Jwave, já abordou a edição deste ano no podcast da edição #281 e no vídeo do SasukeRk Responde #4, e eu venho aqui com um terceiro ponto de vista, complementar e ampliar o que foi dito anteriormente. Uma coisa que talvez faça a diferença nesta minha abordagem em relação às outras, é que eu já sou um senpai veterano de Comiket, uma vez que eu visitei o evento em Julho de 2013. E esse ano eu levei meus amigos para conhecer o evento. Quando digo isso, não é com a intenção de me gabar, mas o fato de eu já ter conhecido o evento me ajudou muito a tomar boas decisões em relação à fazer bom uso do tempo para aproveitar algumas especificidades que me interessavam mais. Além disso, o fato de eu já conhecer o evento me proporcionou a experiência de observar a reação dos meus amigos e entender de um ponto de vista objetivo a sensação de rompimento de expectativa que muitas pessoas podem ter ao chegar lá. [youtube http://www.youtube.com/watch?v=OMG8FDL5dQI&w=420&h=315] Eu tenho a impressão de que muita gente no Brasil quando pensa no Comiket, imagina um Anime Friends gigantesco e bem organizado. Olha, essa imagem está bem longe da realidade. Se for comparar com algum evento do Brasil, o Comiket é uma versão super estruturada da FIQ (Feira Internacional de Quadrinhos), que eu infelizmente não tive a oportunidade de conhecer. Mas é isso, como o próprio nome diz, Comic Market, é uma gigantesca feira de quadrinhos, que promove o independente. A diferença é que o Japão tem um mercado independente extremamente rico e bem aquecido. Toda faculdade tem seu clube de mangá que produz suas obras, assim como diversos grupos profissionais publicam seus trabalhos sem o fomento de uma editora. E como é bem sabido (e foi bastante mencionado no podcast), grande parte desses trabalhos focam-se em fanfics de cunho erótico hentai (heterossexual) ou Yaoi/Yuri (homossexual masculino/feminino). Dito isso, vamos à estrutura do evento. Realizada no icônico Tokyo Big Sight, a maior feira de mangá do mundo, se organiza em dois principais pavilhões: o dos doujin (artistas independentes) e o das empresas. O pavilhão dos doujins, é basicamente o que já foi dito aqui e em mais detalhes no podcast. São grandes galpões com carteiras organizadas em corredores, onde cada expositor tinha seu espaço para mostrar suas obras. Por ter pouco conhecimento e interesse por Doujins eu olhei muito pouco essa área, mas até onde pude entender, um dos galpões era praticamente inteiro voltado para obras de cunho homossexual, e o outro pavilhão, parece que tinha os mangás hentai e de temática não sexual. Como estava acompanhando uma fujoshi amiga que conhece mais sobre Yaoi, me limitei a andar por essa área. Pelo que pude perceber havia uma certa organização de reunir próximos Doujins referentes à uma mesma série. Assim, por exemplo, você passava pelo corredor de Shingeki no Kyojin, o de One Piece, o de Haikyu, o de Gundam, o de Durarara, etc. Entre o que vi lá, os preços não eram muito convidativos, e acontecia muito de você ser atraído por uma capa especialmente bem desenhada, mas ao verificar o conteúdo, a arte corrente não era tão boa quanto a da capa. No fim saí de lá de mãos abanando, mas minha amiga que conhecia os circles (grupos de artistas independentes) pode colocar as mãos em algumas coisas bastante interessantes. Para quem tem interesse é uma ótima oportunidade, porque diferente da maioria as lojas, você pode realmente folhear as obras antes de comprar, e até mesmo conversar com o autor, pedir autógrafo e tudo mais. Quem sabe na próxima eu não me prepare melhor e venha com vários BL do Law, de One Piece? XD Chegando ao pavilhão das empresas, esse é o mais próximo do que um espectador médio de animê vai se atrair neste evento. Ainda assim, é necessário deixar claro, os estandes aqui não são pra você comprar uma coisinha legal daquele animê bacana que você assistiu em 2009. Esse é um evento para o público otaku hardcore, e assim são os produtos. Você vai ver muita coisa de cunho erótico, mas o que realmente é necessário enxergar é que praticamente tudo vendido no comiket são edições limitadas para o evento, ou ainda pré-lançamentos, por isso, você as coisas tem um alto preço, são principalmente focadas em séries atuais, ou que estão prestes a estrear (uma vez que o evento é realiza na troca de temporada), e tem como público-alvo os fãs fervorosos. Esqueça toquinhas de bichinho, coleções de dvd, geringonças, camisetas de vários animês e chaveiros e botons à rodo. Para comprar algo de uma obra popular, geralmente você precisa entrar numa fila, e esses produtos se esgotam como água, por tanto, é necessário chegar cedo e se possível, já saber o que quer. Não há tempo para ver um produto e pensar se você quer ou não. Essa dinâmica faz com que muita gente se desaponte numa primeira visita, assim como eu 3 anos atrás, e alguns de meus amigos dessa vez. Ainda que eu já estava parcialmente preparado, porque já tinha visto uma visão bem precisa do evento pelo animê Genshiken. Se você ainda não conhece, recomendo muito, pois ele trata do universo otaku usando um humor muito inteligente que não denigre faz rir, além de apresentar um universo único para nós. Quem viu meu vídeo sobre minhas compras, já sabe que eu comprei uns itens limitados de Steins;Gate, e pra isso eu fiquei alguns minutos numa fila, mas que valeu cada segundo. Fora o consumismo, este é um ótimo lugar para verificar a popularidade de séries, ao notar os produtos que se acabam rapidamente. E sejamos sinceros, quem alimenta a indústria do animê e mangá, são os otakus Hardcore. Precisam de muitas fronhas eróticas da Asuna no mercado para podermos ter uma empresa que se dá ao trabalho de adaptar um excelentíssimo Boku dake ga inai machi. Fora isso, muitos estandes contratam cosplayers para atrair público, sejam cosplays mais simples entregando panfletos, ou outros mais complexos, posando para fotos e atuando. É necessário porém ter em mente que esses cosplays são profissionais, eles não estão lá fazendo isso por Hobby, eles são contratados, o que é algo ainda pouco recorrente no Brasil. E já que falamos nos cosplays, aqueles que o fazem por Hobby tem algumas áreas do evento especialmente reservada para que eles reúnam seus amigos e posem para fotos. É muito interessante notar que as regras de etiqueta aqui são bastante diferentes. Por exemplo, no Brasil, geralmente a empresa organizadora não se dá ao trabalho de reservar uma área especial para os cosplayers fotografarem, por isso, você vê pessoas tirando fotos em todos os lugares, e muitas vezes atravancando o caminho. Aqui um cosplayer educadamente te informa que não pode tirar foto fora da área específica. Por outro lado, tirar uma foto nessas áreas pode ser um grande problema. Além de algumas pessoas extremamente mal-educadas, que simplesmente ignoram que você está tirando uma foto e passam na frente da câmera sem piedade, alguns fotógrafos podem causar um forte desconforto, pois eles tiram diversas fotos do cosplayer e diversas posições e ângulos, fazendo com que level algum tempo para você conseguir fotografar aquele cosplay incrível de uma série popular. Outra “regra” comum, é que os cosplayers focam sua atenção em uma câmera por vez. Isso faz com que demore um pouco mais de tempo para que você consiga fotografar, mas sua foto será exclusiva e com o foco da visão do fotografado em você. Espero que esse resumão do evento tenha ajudado a construir uma visão mais próxima do que ele realmente é, e que vocês não tenham aquele gostinho de desapontamento quando tiverem a oportunidade de conhecer. Mesmo sendo voltado para o público hardcore, eu recomendo, ao menos como uma experiência do maior evento de cultura otaku do mundo. Tokyo ainda realiza outros eventos ao longo do ano, como o Tokyo Anime Contents Expo e o Comiket de verão. Vamos ver se terei a oportunidade de visitar algum deles. E assim que possível, tentarei visitar algum evento aqui em Fukuoka. Fiquem ligados!
PS. Esta semana estou obcecado por dois filmes. Um deles é Tonari no Totoro. Um clássico do estúdio Ghibli, que está sendo meu filme de ninar. O outro é chamado de Gay Best Friend, e me foi apresentado como uma versão gay de Mean Girls (Meninas Malvadas). Se Mean Girls já é quase que um guia de expressões de muitos gays, fiquei imaginando como seria uma versão Gay dele. Bem, basicamente o filme é sobre as três garotas mais populares do colégio (cada uma líder de um grupo), tentando tornarem-se amigas do único gay assumido da escola, que foi descoberto por meio de um app chamado Gaydar. Elas acreditam que ter um Melhor Amigo Gay é o que falta para serem coroadas rainhas do baile. O filme é uma excelente comédia juvenil, que traz uma abordagem bastante leve e engraçada do mundo gay. É realmente sobre fazer piada dos que as pessoas criam como esteriótipo gay de uma forma descontraída, saudável e sem entrar em temas tão pesados. Ele realmente representa um passo conquistado no que diz respeito ao tratamento da homossexualidade de forma natural para adolescentes. Além disso, o filme me despertou dois surtos de empolgação quando me deparei com JoJo e Evanna Lynch no elenco. Se você quer um filme pra descontrair e dar boas risadas, assista correndo!
Jovem otaku/geek/nerd, mestrando em Literatura Comparada na Universidade de Kyushu, tendo como foco culturas de massa (animê, mangá, light novel). Membro do clube de acapella HarmoQ, e viciado em livrarias e lojas de produtos de animê.
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