quinta-feira, novembro 21, 2024
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Review | Ayako

Finalmente abrindo espaço para mangás em seu catálogo, a editora Veneta traz uma das obras mais respeitadas de Osamu Tezuka, considerado o Deus dos Mangás.

Anunciada quase no final de 2017, Ayako chegou às livrarias e lojas especializadas em fevereiro deste ano. Claro que não podíamos deixar de falar sobre este lançamento importantíssimo e é este o tema de hoje do JMangá.

A história

Tudo começa com o retorno de Jirō Tenge ao Japão, cinco anos após ter partido devido ao alistamento para participar da Segunda Guerra. Ao chegar em sua Terra Natal, é recebido por sua mãe e sua irmã Naoko que lhe dá uma notícia inesperada, após atualizá-lo sobre os outros membros da família: ele agora tem uma irmã mais nova, que nasceu enquanto esteve fora. Seu nome é Ayako e, pelo que Naoko dá a entender, não foi gerada por sua mãe.

Antes de seguir para sua casa, Jirō precisa fazer algo. Pede às duas que aguardem e vai até o Quartel-general das Forças de Ocupação, onde deixa informações que guardou na órbita vazia de seu olho direito. Jirō tornou-se um espião e deve aguardar suas próximas instruções e, ao que parece, não serão agradáveis.

De volta ao lar, ele percebe que nada mudou: seu pai continua uma pessoa severa e que fala o que pensa sem filtros e seu irmão mais velho sempre exalando ambição pelos poros. A única diferença é a presença de Ayako, uma garotinha meiga de cinco anos e que parece ser a luz dos olhos do pai. Observador, Jirō logo percebe que Ayako é filha de seu pai com sua cunhada e constata que sua família ruma em direção à decadência cada vez mais rápido.

Após ser chamado para uma missão ingrata, que tencionava encobrir o assassinato de Tadashi Eno, líder do Partido Democrático Progressista e namorado de sua irmã Naoko. Atormentado, porém resoluto a não deixar pistas, Jirō se atrapalha e é flagrado por Ayako e sua acompanhante, Oryō, enquanto lava os respingos de sangue de Eno de sua camisa.

Ele tenta comprar o silêncio de Oryō, mas se esquece da sinceridade típica infantil e Ayako acaba falando na frente dos policiais que investigam o assassinato de Eno que viu seu irmão lavando uma camisa com sangue tarde da noite. As consequências dessa declaração foram decisivas para o rumo que a história toma: Naoko é expulsa de casa por ser membro do PDP, Oryō é assassinada e Ayako presa dentro do porão e declarada como morta. É aí que o inferno da protagonista tem início.

Jirō foge para não ser implicado pela cumplicidade no encobrimento da morte de Eno e pelo assassinato de Oryō. Ayako cresce naquele porão, sem ter noção alguma do que é certo e errado e, ao completar 28 anos, sua vida começa a andar novamente. É aí que antigos fantasmas começam a ressurgir e Ayako terá que se esforçar para viver em sociedade e para não permitir que seu passado a sufoque.

A edição brasileira

Ayako chegou ao Brasil em uma edição única com mais de 700 páginas, e é a única edição além da japonesa que possui o final alternativo da história.

Publicada em papel Pólen Bold, a edição brasileira ainda conta com um prefácio escrito por Rogério de Campos e um posfácio do próprio Osamu Tezuka.

No que diz respeito à revisão, algumas frases ao longo da história poderiam ter sido “montadas” em uma estrutura mais próxima a que os leitores brasileiros estão acostumados, há um balão faltante na página 434 e um borrão na página 367, mas que não atrapalha o entendimento da leitura.

 

Questionada sobre o balão faltante, a editora não descarta a possibilidade de um futuro recall, como podem ver abaixo:

A tradução foi realizada por Marcelo Yamashita e Esther Sumi.

Opinião

Ayako é uma obra excelente. Ela traz informações e algumas críticas sobre um período real da história japonesa, como a ocupação estadunidense do pós-guerra, além de ser uma obra de Tezuka daquelas que é obrigatória em toda biblioteca, ao mesmo estilo do emocionante Buda e do surpreendente Adolf.

Para mim, a iniciativa da editora em publicar um mangá nesse formato foi ousada, já que não é todo mundo que dispõe de quase 130 reais para comprar algo considerado como supérfluo, ainda que a obra seja direcionada a um público-alvo diferente do ocasional consumidor de mangás.

Apesar de ter gostado muito da edição como um todo, não curti a capa nacional. Acredito que algo baseado na edição americana ficaria mais bonito e delicado, remetendo à protagonista que desabrocha diante das adversidades. Do jeito que ficou, me causa um pouco de incômodo e estranheza.

No contexto geral, foi uma ótima aquisição. Recomendo a todos que gostem de obras com pano de fundo histórico e de boa qualidade. Tezuka nunca decepciona.

Luana Tucci de Lima
Luana Tucci de Lima
Fã incondicional de CLAMP, Nobuhiro Watsuki e Yuu Watase. Adora mangás Yaoi , Turma da Mônica e... mordomos de óculos.

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