Série esperada pelos adultos mais nostálgicos, Velma estreou nessa semana na HBO Max, com os primeiros dois episódios. A produção era aguardada por trazer uma releitura dos personagens clássicos de Hanna Barbera abordando o tema “diversidade”, porém perdendo um dos pontos mais icônicos: o cachorro Scooby-Doo.
Seguindo o caminho de outras produções da própria HBO Max, como as duas temporadas de Arlequina, “Velma” apresenta diálogos com público sem filtro algum.
Chama a atenção nesta nova versão as etnias dos personagens. Velma é sul-asiática, enquanto Salsicha um afro-americano. A criadora da série, Mindy Kaling, que também faz a voz de Velma, explica: “A essência de Velma não está necessariamente ligada à sua cor branca. E eu me identifico tanto quanto a personagem dela, e acho que muitas pessoas se identificam, então é como, sim, vamos fazê-la asiática nesta série”, explicou ela, que possui pais indianos e trouxe tais referências à personagem.
Já Daphne ganhou a voz original da atriz Constance Wu (Podres de Rico / Crazy Rich Asians), uma americana com pais taiwaneses.
No atual momento das produções americanas, após um período de inclusão de personagens latinos é chegada a hora de personagens indianos e asiáticos. Assim, Velma é uma personagem de uma família de indianos, porém Mindy Kaling vai além, ao definir como sul-asiática. Paralelo a isso, no universo de heróis há Ms. Marvel, que também é indiana, e de Shang-Chi representando a cultura chinesa.
Sobre a série
Produção de 10 episódios com lançamentos em episódios pares, Velma chega ao streaming HBO Max num momento em que a empresa passa por uma restruturação, depois da fusão Warner Bros – Discovery. A produção teve problemas durante este processo, chegando até se duvidar se a série ganharia um lançamento.Até o momento a história apresentou um assassino em série em que está matando garotas do colégio dos protagonistas. Velma e Daphne se odeiam, enquanto Fred é egocêntrico e o Salsicha guarda uma paixão por Velma.
A produção aborda que o interesse por investigações da Velma fez com que a mãe dela fugisse de casa. Além disso, seu pai tem um relacionamento com uma mulher mais nova, o que gera um conflito em casa, além da cultura de sua família. Diferente da série da Arlequina que também é adulta, mas segue uma identidade visual próxima das outras animações do Batman, Velma optou se desvincular do restante do universo do Scooby-doo, o que talvez tenha dado ainda mais liberdade na criação da série.
Na produção, vale a curiosidade que semelhante a outras produções americanas, a série é animada por estúdio sul-coreano. Outras produções como Simpsons e Avatar: A Lenda de Aang também são produzidas na Coreia do Sul.
Co-Criador do Scooby-doo e sua relação com Japão
Somente em 1961, Iwao Takamoto foi trabalhar na produtora Hanna-Barbera. Além da criação de personagens, ele também se tornou produtor de séries, como: A Família Adams, Hong Kong Phooey e Tutubarão. Ele chegou a se tornar vice-presidente da Hanna-Barbera e ganhou o Globo de Ouro de Animação em 2005 por ter se dedicado a 50 anos para o mercado de animações. Infelizmente, Iwao Takamoto acabou falecendo em 2008 por parada cardíaca em Los Angeles. Sendo tão importante para a animação ocidental na criação de personagens tão icônicos, Iwao Takamoto acompanhou mudanças importantes do mercado, quando a produtora Hanna Barbera se tornou a Cartoon Network Studios.
A Toei Animation também fez parte das produções do Scooby-Doo
Uma curiosidade é que a Hanna-Barbera numa parceria com a Toei Animation, acabou produzindo diversas séries nos anos de 1970 e 1980. Entre elas, temos as produções do Scooby-doo que dividiam espaço com “boom” dos animês do Japão, como Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco que também eram da Toei Animation.Naquela época, diversas produções nipo-americanas estavam em auge, como Transformers e Thundercats, aonde os roteiros ficavam nas mãos dos norte-americanos, enquanto a animação era produzida no Japão.
Velma abraça a diversidade, mas ignora legado japonês dos personagens
Cada dia que passa, uma produção precisa tomar cuidado ao dar voz e representar uma sociedade como um todo. Vemos este movimento em produções americanas, mas também vimos produções brasileiras, numa assertiva postura de representar diferentes povos na tela.
Quando o assunto recorre a mudar etnia e orientação sexual de personagens clássicos, a discussão acalorada costuma ignorar que uma versão nova não anula uma versão clássica dos personagens. Porém, Velma ao dar voz a parte da sociedade, se esqueceu de dar voz a parte da comunidade nipônica que de alguma forma sempre esteve envolvido com o cachorro mais famoso do mundo.
Texto escrito originalmente para o Nippon Já