domingo, novembro 24, 2024
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Review | SAND LAND e o rico mundo de Akira Toriyama

Uma coisa que sempre ficou claro para o público é que depois do fim de Dragon Ball, Akira Toriyama não desejava voltar em nenhum mangá longo. E pensando exatamente nisso, ele fez mangás curtos como: Cowa!, Neko Majin e o próprio Sand Land. Algumas vezes, Toriyama fazia capítulos especiais com outros autores, o que reforçava seu desejo de apenas se divertir fazendo mangás, desde que ele encerrou Dragon Ball em 1995. É verdade que suas obras acabaram ganhando outras versões, até mesmo continuações em que ele supervisionou, como o próprio Dragon Ball, mas é fato que Sand Land foi pensado para ser uma história simples e curta, sendo aqui expandida em um filme, uma série animada e um jogo.

Se na história original, não tínhamos tempo de entender tudo que foi proposto ali, aqui temos todo o tempo do mundo, em um mundo aberto que segue a narrativa proposta, porém narra os fatos levemente diferentes da sua versão em mangá e da sua versão animada.

Assim, somos apresentados ao Sand Land, um jogo que se passa em um futuro distópico, em que a sociedade tem tentado driblar a falta de água.

O mangá, filme e série animada

“Desta vez eu tinha decidido que iria fazer uma história sobre velhos e tanques de guerra, dos quais eu curtiria pessoalmente e comecei essa minissérie.”

Akira Toriyama sobre Sand Land (Editora Conrad)

Diretamente das páginas da Shonen Jump em 2000, a história em 13 capítulos, surgia com uma proposta ousada, em que em um mundo desértico, vemos humanos e demônios trabalhando juntos para trazer água para a população.

Se por algum momento se cogitou que Toriyama pensou em mostrar a preocupação com a falta de água, o jeito dele de ser, demonstra que ele só queria contar uma história com personagens idosos e tanques de guerra, fazendo algo que sempre foi se divertir desenhando.

Na história, temos o filho do Diabo, o príncipe Belzebub e seu amigo Ladrão concordam em trabalhar com o xerife Rao para encontrar uma fonte de água mais barata. Naquela região, toda a água ali é regida por um rei que vende a preços altíssimos, o que faz com que Belzebub haja como um Robin Hood, em roubar água para distribuir aos pobres (mesmo que isso vá contra a sua natureza de ser um demônio).

O que Sand Land começa como uma história leve e divertida, vai se acrescentando camadas em seus capítulos posteriores, revelando que toda essa crise hídrica atual foi um plano há 30 anos atrás, em que General Shiba (o xerife Rao) participou da morte do povo Picchi e que trouxe a seca na sequência. Lógico que ao modo “Dragon Ball”, vemos um mundo muito similar a Mad Max e a Hokuto no Ken, com povos estranhos e caricatos deste mundo distópico e o que rende muitas batalhas e ecos de coisas que conhecemos em outras obras do autor e que permeiam em toda obra como as cápsulas para transportar carros e tanques por aqui.

Mas como isso seria adaptado em um jogo?

SAND LAND

A primeira coisa que descobrimos é que Sand Land não está sozinho e aqui temos também a Forest Land, um novo arco que leva Belzebub e o xerife Rao para outro reino, revelando que ali também existiam anjos e outros personagens para uma trama política das mesmas formas que o primeiro arco. Este novo arco, criado pelo Toriyama, veio depois do filme lançado em dezembro no Japão, sendo que o filme foi lançado em formato de episódios no streaming e este novo arco é uma continuação com uma nova leva de episódios da série animada exclusiva para Disney Plus/Star Plus/Hulu.

E precisamos falar disso antes, porque o jogo traz a história original, mas com personagens dos dois arcos misturados, assim temos por exemplo a Ann do arco Forest Land desde o começo da história original de Sand Land, costurando um universo bem mais rico para a adaptação em formato de jogo.

Ann, personagem exclusiva no novo arco e em todo jogo – Divulgação

Jogo

SAND LAND

Lançado em 26 de abril, Sand Land foi desenvolvido pela ILCA, a mesma do ótimo One Piece Odyssey, sendo lançado para Microsoft Windows, PlayStation 4, PlayStation 5 e Xbox Series X/S. Produzido em Unreal Engine 5, o jogo é um RPG de ação em um mundo aberto, que segue a história original do mangá, mas lógico que com um certo exagero, para gerar a dificuldade necessária dentro do universo ali proposto.

Como num RPG, aqui os personagens vão se conhecendo e destacando suas características, assim jogamos com Belzebub em terceira pessoa, sendo que curamos o personagem com água. Na equipe ainda temos, o xerife Rao, Ladrão e a Ann, sendo que a Ann entra com a dinâmica de ser uma mecânica no grupo, consertando por exemplo o tanque que eles utilizam em boa parte do jogo. Os demais seguem o papel da história original, em que o xerife Rao está buscando água mais barata, enquanto Ladrão foi convocado pelo pai do Belzebub para o acompanhar na aventura.

Passados os momentos iniciais e tendo a equipe formada, o jogo nos deixa livres para andar tranquilamente pelo cenário, mostrando as diversas vilas ali presentes em Sand Land. Logicamente, por mais que o mundo esteja aberto, parte da história é essencial para funcionar na evolução dos personagens, o que justifica a ida deles pelo cenário, perdendo o carro, e todo um plano para conseguir sequestrar um tanque.

Vale aqui frisar que por mais que os eventos sejam bastante parecidos com a obra original, aqui eles dão uma exagerada, fazendo com que o sequestro do tanque seja uma mega operação de guerra para poder fugir e cair na estrada. A mesma coisa acontece quando o tanque quebra em outra cidade e Ann exige que você cace peças para ela poder consertar e seguir viagem com o grupo.

E neste ponto, temos que ser francos que o controle responde muito bem e Belzebub é um personagem bastante carismático e que funciona no papel de protagonista. Ele flui no controle e seus golpes aproximam o jogo de um RPG mais focado em ação, mostrando uma certa facilidade em jogar com ele.

Em contrapartida, o controle não é tão fácil assim em encontrar outros itens com ele, então assumo que demorei bastante para encontrar a tela para utilizar as cápsulas do tanque no mapa. É lógico que depois que aprende fica levemente mais fácil, mas poderia ter sido pensado de uma maneira mais fácil de acessar eles.

Um fato bastante curioso é a questão do mapa, que por mais que exista uma história a ser seguida, o jogo permite que você possa marcar outros dois pontos que deseja visitar no mapa, tornando mais fácil utilizar o mapa do jogo que aponta quantos metros fica o lugar da história e os pontos que você deseja visitar ali.

Em um dos momentos do jogo, tivemos que aprender a usar stealth para conseguir invadir um acampamento e confesso ter achado bem interessante como você precisa fazer o Belzebub andar discretamente pelo cenário para derrubar os soldados ali presentes.

Belzebub lutando com personagens que parecem saído de Hokuto no Ken / Mad Max

Em outros momentos, apenas para passar por uma gangue estranha, fará você ter a melhor estratégia para derrubar todos ali presentes. E olha que esses personagens parecem ter saído de uma sátira do Hokuto no Ken de tão estranhos ali no deserto.

Mas é invejável aqui o trabalho meticuloso da Bandai Namco em recriar e expandir o mundo do Sand Land para um jogo tão extenso. Com tantos detalhes novos e aprofundando detalhes extremamente rápidos no mangá, mostram como eles tiraram leite de pedra, em tornar real um mundo de uma obra tão curta.

E lembra quando Toriyama disse que Sand Land é só uma obra de idosos e tanques? Aqui os tanques merecem atenção e tem até uma personalização especial que você pode ir tunando o seu tanque com o que for encontrando pelo cenário. Isso agrega não só visualmente, mas também nas armas que você pode colocar para melhorar os ataques, enquanto estiver usando o tanque pelo cenário.

Outro ponto essencial a ser destacado é que Sand Land tem alguns chefes pontuais na história e o desafio é bem interessante, mostrando certa originalidade nas lutas. Isso é um certo alívio, pois o jogo acaba sendo um pouco repetitivo na exploração do cenário, então quando temos novidades na história, torna a experiência bastante agradável.

Vale aqui mencionar que ao ter optado fazer filme, série e jogo ao mesmo tempo, a técnica de animação que dá uma certa combinação de animação 2D com 3D, bastante similar ao do filme Dragon Ball Super: SUPER HERO. Essa combinação visual traz uma sensação de que você está jogando um animê e é algo extremamente positivo aqui. Outro ponto bastante positivo e até essencial para você comprar a ideia de explorar o Sand Land, são os diálogos entre Belzebub, Ladrão e o Rao totalmente gratuitos enquanto você está andando pelo cenário. Imprevisíveis, eles podem aparecer em qualquer momento da história.

Mas lógico que nem tudo são flores, por Sand Land trazer uma exploração repetitiva e que às vezes você se perde ali na história. Mesmo assim, é uma grande surpresa considerando o projeto ambicioso que foi trazer Sand Land para uma nova geração, depois de 24 anos.

Sand Land era só uma história com tanques para Toriyama – Divulgação

A Tradução

Sand Land recebeu um trabalho muito bom de localização em português, com legendas que fluem e trazem uma sensação de que os personagens falam o nosso idioma. Toda a tradução está bem localizada e funciona desde pequenos detalhes, como menu, sinalizações no cenário e as falas dos personagens.

Por ter acompanhado o anime no Star Plus, não percebi diferenças nos termos da tradução, utilizados aqui no jogo e na série animada, o que pode mostrar um certo entrosamento entre as duas traduções brasileiras.

Opinião

Definitivamente, Sand Land honrou o legado de Akira Toriyama em apresentar um mundo totalmente novo para os videogames. Saindo um pouco de tanto Dragon Ball, produzido também pela própria Bandai Namco, Sand Land trouxe um novo fôlego e uma nova faceta do legado do autor.

Lógico que não esperávamos que o autor viesse a falecer em 2024, então olhar para Sand Land como uma das últimas obras do Toriyama, acaba sendo muito triste, ao mesmo tempo que toda leveza dos personagens e de sua história, estão vivos, em duas versões totalmente diferentes, com animação e o jogo.

Já falando exclusivamente do jogo de Sand Land, ele flui muito bem e você pode passar algumas boas horas jogando. E aqui assumo que joguei de madrugada adentro algumas vezes o Sand Land, por tão gostoso que é acompanhar a história ali. Mesmo que você a conheça, ela está sendo contada de uma maneira totalmente diferente, o que gera uma certa surpresa ao jogador.

Carismático, ele é um jogo que vale principalmente aos fãs do autor, mas não espere algo próximo de Dragon Ball Z: Kakarot. São propostas totalmente diferentes e aqui você está mais se divertindo com Belzebub do que tentando salvar a mitologia de Dragon Ball Z.

Pensando nisso, Sand Land tem seus tropeços, mas é um jogo divertido e vale a sua atenção, principalmente se você procura algo despretensioso para jogar. Outro ponto é que mesmo sendo uma obra transmídia, você não precisa consumir todas para aproveitar Sand Land, assim, se você só quiser jogar, jogue e terá uma excelente experiência como jogador.

Sand Land

Nota: 4 de 5

Desenvolvido: ILCA

Publicado: Bandai Namco Entertainment

Produtor: Keishu Minami

Plataformas: Microsoft Windows, PlayStation 4, PlayStation 5 e Xbox Series X/S

Lançamento: 25 de abril 2024 no Japão e 26 de abril 2024 no restante do mundo

Gênero: RPG de Ação

Agradecemos a Bandai Namco por ter nos enviado uma cópia do jogo para o Playstation 5

Giuliano Peccilli
Giuliano Peccillihttp://www.jwave.com.br
Editor do JWave, Podcaster e Gamer nas horas vagas. Também trabalhou na Anime Do, Anime Pró, Neo Tokyo e Nintendo World.

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