quinta-feira, novembro 21, 2024
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Review | De volta, SNK vs. Capcom: SVC Chaos é um ótimo recorte da história

Toda criança que cresceu nos anos 90 e início de 2000, quando o assunto era jogo de luta, jogava Street Fighter ou Fatal Fury, seja em consoles de mesa, portátil ou nos bons e clássicos fliperamas. E se o papo era crossover, era difícil não associar o encontro de Capcom com SNK, seja pelos jogos produzidos pela Capcom ou pelos jogos produzidos pela SNK.

Anunciado e lançado em pleno EVO 2024, o SNK vs. Capcom: SVC Chaos reconta este momento da história em que a SNK produziu sua versão do embate, trazendo de forma inédita os personagens de Street Fighter, agora redesenhados com o traço característico da SNK. Crossover produzido em 2003, ele é lembrado por ter sido produzido pela Playmore em um momento após a falência da SNK em 2001, passando por SNK Playmore até se tornar novamente SNK com desdobramentos ainda recentes de sua venda de 96,18% para Electronic Game Development Company da Arábia Saudita.

Se por um lado o SNK vs. Capcom: SVC Chaos é um jogo que poderia ter representado o fim da empresa que conhecemos, agora ele está de volta, numa época em que também temos o anúncio de Terry Bogard e Mai da série Fatal Fury no Street Fighter VI da Capcom. Mostrando que o mundo realmente dá voltas e que as duas empresas estão mais firmes do que nunca, trazendo suas principais marcas de volta ao mercado.

SNK vs. Capcom: The Match of the Millennium de NeoGeo Pocket Color – Divulgação

Este é o quarto jogo do encontro entre SNK e Capcom. SNK vs. Capcom: SVC Chaos veio depois do encontro em SD SNK vs. Capcom: The Match of the Millennium no NeoGeo Pocket Color e dos crossovers dos fliperamas: Capcom vs. SNK: Millennium Fight 2000 e Capcom vs. SNK 2: Mark of the Millennium 2001. Aqui, a SNK teve o principal desafio de produzir um jogo que respondesse à altura dos jogos produzidos pela Capcom com seus personagens, nascendo um jogo com uma jogabilidade totalmente diferente da “rival”, além de ter que escolher 36 personagens para compor o elenco deste embate.

Lançado originalmente para fliperamas, o jogo saiu para Xbox e Playstation 2 (apenas no Japão e na Europa) em 2003. Agora, o jogo está de volta para PCs, disponível no Steam e GOG, e para consoles, chega para Playstation 4 e Nintendo Switch, desta vez não chegando para os consoles Xbox.

Com novidades como lobbies online para até nove jogadores, netcode rollback e um visualizador de hitbox, SNK vs. Capcom: SVC Chaos conversa com o público atual, ao disponibilizar ferramentas que modernizam a experiência de jogo.

Mas como esse encontro nasceu?

 SNK vs. Capcom: SVC Chaos

A história por trás da criação do SNK vs. Capcom intriga muitos jogadores até hoje, por ser derivado de um embate entre as principais franquias daquela época, tão intrigante quanto os próprios combates entre os personagens icônicos de ambas as franquias. Estamos falando da revista Monthly Arcadia que, na época, estampou na capa uma arte que trazia os personagens de The King of Fighters ’98 (da SNK) e Street Fighter Alpha 3 (da Capcom), que eram os grandes lançamentos daquele período. Trazendo o título KoF vs. SF, o público ficou confuso com a possibilidade de um jogo entre ambas as empresas, o que acendeu uma fagulha de uma conversa entre as produtoras, gerando uma parceria que estamos falando aqui agora.

A parceria estreou em 1999 com o portátil NeoGeo Pocket Color, com um jogo produzido pela SNK, chamado SNK vs. Capcom: The Match of the Millennium, mas o primeiro jogo de fliperama veio em 2000 com Capcom vs. SNK: Millennium Fight 2000 produzido pela Capcom, utilizando a placa Naomi, sendo lançado para Dreamcast e Playstation. No ano seguinte, tivemos Capcom vs. SNK 2: Mark of the Millennium 2001 sendo lançado para PlayStation 2, GameCube e Xbox (na versão Capcom vs. SNK 2 EO).

O terceiro título de fliperama foi justamente SNK vs. Capcom: SVC Chaos, um jogo que chegou atrasado em 2003, mas que deveria ter sido lançado lá em 2000, junto de SNK vs. Capcom: The Match of the Millennium, sendo a versão da SNK do embate. Só que, como comentado, a SNK não estava bem financeiramente, enquanto a empresa caminhava para fechar as portas, nascia a Playmore, que herdou funcionários e as marcas da antiga empresa, assim cumprindo o acordo de lançar um jogo versus com a Capcom.

Se os jogos da Capcom foram desenvolvidos para a placa Naomi, SNK vs. Capcom: SVC Chaos, produzido pela SNK, trouxe um jogo desenvolvido na MVS, velha conhecida de outros títulos da SNK.

O mais curioso de toda esta história é que este acordo supostamente entre a SNK e a Capcom dava a liberdade para a empresa rival utilizar seus personagens em seus jogos, deixando o lucro de cada jogo para a produtora que fizesse o respectivo jogo. Tal história se tornou lendária, mostrando que nem sempre as coisas saem como deveriam.

O elenco

Tela de seleção com 24 personagens, sem os personagens secretos – SNK vs. Capcom: Chaos SVC

Composto de 36 personagens, o elenco de SNK vs. Capcom: SVC Chaos é dividido igualmente entre as principais franquias da SNK e Capcom. Entre os personagens jogáveis da SNK, destacam-se Kyo Kusanagi, Choi Bounge e Iori Yagami da série The King of Fighters; Terry Bogard, Mai Shiranui e Kim Kaphwan da série Fatal Fury; Ryo Sakazaki, Mr. Karate e Kasumi Todoh da série Art of Fighting; e Earthquake, Genjuro Kibagami e Shiki da série Samurai Shodown. Já da Capcom, temos Ryu, Ken Masters e Sagat do jogo Street Fighter; Chun-Li, Guile, Dhalsim, Vega, Balrog, M. Bison e Akuma do jogo Street Fighter II; Hugo do jogo Final Fight; Zero da série Megaman Zero e Tessa do jogo Red Earth.

Além deles, não podemos deixar de citar os personagens secretos, como Goenitz, Geese Howard, Mars People e Serious Mr. Karate da SNK, e Dan Hibiki, Demitri Maximoff, Zero, Violent Ken e Shin Akuma da Capcom.

Igual, mas diferente

Quando colocado ao lado dos dois jogos produzidos pela Capcom, o SNK vs. Capcom: SVC Chaos se destaca em suas diferenças, não só pelo design, mas pelas escolhas que tornam a essência de um jogo da SNK. Assim, começando pelo sistema de comandos influenciado pela série The King of Fighters, incorporando chutes leves e fortes, socos, cancelamentos e ataques. Diferente dos jogos produzidos pela rival, aqui não existem defesas aéreas e nem o “Groove System”, o que dava uma certa rapidez na resposta e ataque dos personagens.

Aqui, os personagens têm um sistema básico de barras de três níveis para ataques super especiais, o que torna o jogo bastante complexo para jogadores acostumados com os controles das versões da Capcom.

Sem história, mas com diálogos

Um dos charmes de SNK vs. Capcom: SVC Chaos está nos diálogos entre os personagens das duas produtoras. Por mais surreal que o jogo não tenha uma história propriamente dita, isso não impediu a Playmore de produzir um jogo em que todos os personagens interagem entre si.

E talvez aqui esteja um dos problemas quando pensamos em jogos localizados em português brasileiro, por ser um jogo com diálogos bem sacados, fica um pouco restrito aos jogadores que não leem em inglês.

Online para uma nova geração

Focado em agradar também uma nova geração, o jogo foi atualizado para funcionar online nas plataformas atuais, podendo utilizar lobbies online e netcode rollback. E vamos combinar que isso é o padrão hoje em dia, quando se fala de jogos de luta atuais, então a SNK fez a lição de casa ao trazer um jogo do passado para as novas gerações.

Testando online, devo confessar que nem sempre o jogo flui bem, podendo sempre ser uma caixa de surpresas para o jogador, ao se deparar com problemas de conexão do outro jogador.

Galerias e muito mais

Se você gosta das artes da época, um dos grandes charmes são as artes produzidas e que estão catalogadas na galeria do jogo. Uma mais icônica que a outra, te dá mais desejo de ter um livro com tantas artes produzidas naquele período.

É fato que por mais que a galeria seja muito rica, já tivemos outros jogos do passado que resgataram manuais, arte de caixas de jogos, publicidade da época, como Teenage Mutant Ninja Turtles: The Cowabunga Collection. E talvez a galeria aqui poderia ter ido mais a fundo, resgatando ainda mais material daquela época.

Diversão continua a mesma

Se existe um motivo que faz tudo valer a pena é a diversão em SNK vs. Capcom: SVC Chaos. Reproduzido com fluidez, trazendo filtros que suavizam o visual pixelado da época, além de 4 molduras diferentes com os personagens de ambas as produtoras, o SNK vs. Capcom: SVC Chaos entrega o que se espera de um jogo do passado que está de volta para uma nova geração.

Trazer encontros como Ryu e Terry ou Chun-Li e Mai mostra que o jogo continua sendo um título interessante, quando o assunto é SNK vs. Capcom. Porém, temos que ser francos, o jogo traz escolhas inusitadas, ao escolher Earthquake, Genjuro Kibagami e Shiki da série Samurai Shodown, mas deixando de fora nomes como Haohmaru e Nakoruru. O mesmo vale para o elenco da Capcom, que tem ausências sentidas, como Zangief.

O jogo em si, quando comparado com outros versus, se torna interessante por ser um recorte do passado, porém ele não é o melhor desta série, que, na minha opinião, continua sendo Capcom vs. SNK 2: Mark of the Millennium 2001. São sentidos os problemas que o jogo teve, além da ausência de uma história, exaltando um título que poderia ter ido muito além, caso não tivessem ocorrido problemas na própria SNK.

Em relação a trazer o jogo para a nova geração, acaba sendo muito interessante poder jogar online, sendo o grande atrativo desta versão. Se uma coisa mudou nos últimos 20 anos, é a forma de você jogar com os amigos, sendo o grande acerto colocar netcode rollback.

A ausência de localização em português também é sentida, num momento em que os jogos quase em sua maioria são lançados traduzidos por aqui. Com toda a ação sendo em texto no começo e no final das lutas, acaba restringindo todas as ótimas situações de encontros entre os personagens, até mesmo piadas sobre semelhança entre eles.

SNK vs. Capcom: SVC Chaos continua entregando diversão e sendo um bom jogo, sendo um título que faltava estar disponível novamente, agora chegando para Playstation 4 (e também o Playstation 5), Nintendo Switch, PC (Steam e GOG). É uma excelente adição para fãs do passado, por ser um título que para muitos passou despercebido na época, sendo que naquele momento, as pessoas lembram mais da série versus produzida pela Capcom ou do jogo ‘The King of Fighters 2002: Challenge to Ultimate Battle’ produzido pela própria Playmore junto da coreana Eolith.

Nota

3 de 5

SNK vs. Capcom: SVC Chaos

Desenvolvimento: Playmore, Capcom, Ignition Entertainment (PS2, Xbox), Flashpoint (PS2), Code Mystics (Steam, GOG, Nintendo Switch, PS4)

Distribuição: SNK CORPORATION (Steam, GOG, Nintendo Switch, PS4)

Lançamento: Arcade 24 de julho de 2003 / 20 de julho (Steam, GOG, Nintendo Switch, PS4)

Gênero: Luta

Agradecimentos a assessoria da SNK por ter enviado uma cópia do jogo para Playstation 4 para análise

Giuliano Peccilli
Giuliano Peccillihttp://www.jwave.com.br
Editor do JWave, Podcaster e Gamer nas horas vagas. Também trabalhou na Anime Do, Anime Pró, Neo Tokyo e Nintendo World.

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