
É muito estranho ouvir falar do “fim” da colônia japonesa, depois da imigração japonesa no Brasil tenha completado 100 anos com tanta força. Porém, essa é uma afirmação real que a bastante tempo tem rondado a cabeça de pessoas que trabalham voltadas exclusivamente com esse público por aqui ou no Japão.
Todos nós sabemos que o grande iceberg chamado “crise econômica” colocou em cheque a situação de muitos brasileiros no Japão. A situação ficou tão critica que o governo japonês intercedeu oferecendo dinheiro para os brasileiros voltarem ao Brasil com uma condição, não regressarem ao Japão nesse período caótico por lá.
Os números que até ano passado passavam de 50 mil brasileiros que voltaram ao seu país de origem, por terem sido demitidos no Japão se tornou um dado alarmante e principalmente nos trouxe outro dado interessante.
No Brasil, os primeiros japoneses que vieram por aqui, construíram um “mini” Japão dentro do país, trazendo tradições, costumes, cultura e comida que não existia por aqui. Hoje, esses artigos viraram moda, e alguns ficaram enraizados na cultura brasileira. Porém, os japoneses não queriam aprender português, e fizeram escolas voltados a educação do seu país com o sonho de regressar ao Japão. Como todos nós sabemos, um sonho que não se tornou realidade, já que guerras, política e até a forma de trabalho no Brasil destruíram qualquer tentativa de regressar ao país natal.
Nos anos 90, filhos e netos de muitos desses japoneses, começaram a fazer o caminho inverso e ir ao Japão como dekassegui. O Japão se tornou o segundo país mais importante no mundo e existia uma escassez de mão de obra, o que se tornou uma porta de entrada para descendentes japoneses que não tinham condições pra se manter no Brasil.
Se os japoneses fizeram um “mini” Japão quando vieram pro Brasil, os brasileiros construíram uma “mini” Brasil no Japão. Algo que é bastante criticado pelos japoneses, em que os Brasileiros não se “esforçam” pra aprender japonês e nem aprender os costumes japoneses. Porém, olha a ironia, há 100 anos atrás acontecia a mesma coisa no Brasil, e tiveram que haver interferências políticas, como a do Getulio Vargas, para que a colônia japonesa se integrasse ao país.
O que sabemos hoje, que nas últimas décadas, que a cultura japonesa tão preservada pela “colônia japonesa” na forma de organizações e representações de províncias do Japão, está sendo rejeitada pelas novas gerações. Os descentes como brasileiros gostam e se interessam por outras culturas e foi assim que decaiu o número de interessados em manter vivo o idioma japonês.
Por outro lado, o Ocidente foi invadido pela cultura pop japonesa, o que fez um número de estrangeiros sem vínculos sanguíneos com japoneses, a aprenderem e apreciar o idioma, cultura e costumes japoneses.
E enquanto essa crise, alguns brasileiro consideram que foi o momento ideal do “Japão” se livrar deles, por essa barreira cultural, também se discute o aumento de 1% para 10% a entrada de estrangeiros no país sendo uma das exigências, formação qualificada e saber o idioma japonês. Isso é muito pouco divulgado e comentado, porém na minha opinião é um caminho natural que se o Japão está mudando e passando por uma transição pós crise econômica, a maioria da mão de obra não qualificada será substituída por uma qualificada. Porém isso poderia ter sido menos doloroso, tendo um suporte para adaptação aos brasileiros, que envolveria cursos, formação e aprender o idioma. Parece caro, mas com apoio de ONGs, governo japonês ou brasileiro, muito dessa mão de obra brasileira poderia ter sido assimilada nas empresas japonesas, com condições melhores de trabalho.
Recentemente, tivemos o anúncio do cancelamento da publicação mensal Made in Japan, publicado pela JBC. Sim, uma revista que atravessou uma década, está indo pro caminho virtual, porque o público da revista, aquele descedente ou admirador da colônia japonesa, não está dando conta da publicação.
A Made in Japan é uma revista excelente que sempre trouxe as principais novidades do Japão para os brasileiros. A revista é a cara da editora JBC, que acabou mirando dos públicos depois de um tempo, a colônia com a revista e os jovens interessados pela cultura japonesa pelos mangás traduzidos em português.
Hoje, a editora JBC está reinventando e reposicionando Made in Japan, encontrando o mesmo êxito que sua linha de mangás encontrou. Assim, a revista se torna mais um ponto de que hoje, se a cultura japonesa vive, vive por um público fã da cultura oriental, porém não tem uma tradição em casa, simplesmente por são brasileiros, descendentes de outros povos como portugueses, italianos, espanhóis, e não necessariamente japoneses.
Recentemente, até alguns benefícios como bolsas bancadas por províncias japonesas, para descendentes japoneses que residem no Brasil, estão encontrando dificuldade pela ausência de interessados de ir com tudo pago pra região natal de seus avós. Resumindo, eu já recebi e-mail sobre brasileiros em geral darem sua opinião para que essa bolsa seja aberta a todos e não só a descendente daquela região.
A cultura japonesa vai manter viva, seja por sua tradição dentro dos seus lares, ou por seus festivais pelo Brasil, porém cada vez mais ela será assimilada pelos brasileiros que apreciem sua cultura, tornando mais abrangente como festas de outros povos aqui no país, como festas italianas.
Essa é uma realidade que se torna cada vez mais palpável, nesses próximos 100 anos. Você está pronto para essa nova realidade?

Obs: Essa é a opinião do autor do blog J-Wave, Giuliano Peccilli.